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Contador D'Estórias

Um blog com estórias dentro.

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Qui | 14.05.15

"Infinito Presente" de Camané

Carina Pereira
Cinco anos decorridos desde que editou o seu último álbum, Camané brinda-nos agora com este Infinito Presente. Se a espera, regada com espectáculos para matar a saudade, foi longa, fica a certeza de que valeu também a pena.Este disco foi criado com aqueles que já conhecem de cor do que Camané é feito; a pluralidade de Manuela de Freitas e José Mário Branco - a quem roubo estas palavras - e os domadores de instrumentos que tão bem acompanham a voz: José Manuel Neto na guitarra Portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola do Fado e Carlos Bica no contrabaixo.O disco, para bem de quem tanto tempo esperou, contém dezassete maravilhosos temas e, não fosse isso já razão suficiente para regozijo de quaquer fã, é-nos oferecido também um DVD que em muito se assemelha ao documentário "Fado Camané" de Bruno de Almeida, e nos dá de novo um olhar mais próximo do que acontece nos bastidores da criação de toda esta obra. Gravar um disco é muito mais do que cantar apenas e a oportunidade de observar todo este processo é uma oferenda preciosa.Mas vamos às cantigas que compõem o álbum. A primeira coisa que fiz, ainda antes de me sentar para o ouvir, foi pegar no booklet que vem com o CD e percorrer as letras. Acho a letra de qualquer música tão importante - se não até mais - do que a melodia. Afinal, o que nos faz escolher aquela música, vermos nela um reflexo de nós, criarmos uma ligação com ela, é a história que se conta cantando. É claro que os arrepios vêm da emoção transmitida pela melodia, mas da história que ela conta queremos nós todos saber, cantá-la mais tarde também à nossa maneira.Gostei - muito - das letras. Manuela de Freitas continua a não desapontar. Aliás, se for a escolher predilectos neste disco, aponto o dedo a duas composições que contam com os seus poemas: Passaste Por Mim e Lume. À semelhança do Fado Da Recaída, - da mesma autoriahá nos escritos de Manuela de Freitas uma qualquer melancolia alegre. As histórias nem sempre têm nuances felizes, mas a forma despreendida com que são contadas deixam-nos com um sorriso no rosto.Felizmente, Camané continua a enebriar os seus Fados com os versos dos grandes poetas. David Mourão-Ferreira - o meu favorito, nem mais - embeleza três canções deste disco: Chega-se A Este Ponto (título original Equinócio,) Paraíso e Infinito Presente (título original Corpo Iluminado XII,) que acabou por titular toda esta compilação. Aqui Está-se Sossegado, de Fernando Pessoa, é outro exemplo.No que toca a melodias, há Fados tradicionais com fartura. No DVD, Camané sublinha que tentou não repetir Fados tradicionais que já tivesse gravado mas, no fim, acabou por fazê-lo porque há poemas que parecem terem sido criados a pertencerem já a certos Fados, letras que encaixam ali na perfeição. No entanto, o mesmo Fado tradicional deixa espaço a variadas intrepretações e, o que seria mais do mesmo, já não é.Duas das músicas têm autoria do avô do Fadista, José Júlio Paiva; a uma delas Camané entregou as palavras de Fernando Pessoa, a outra as de Frei António das Chagas. A melodia que acompanha A Correr, com letra de Manuela de Freitas e o tema escolhido para abrir a cortina desta peça, é um inédito de Alain Oulman, compositor que já pudemos ouvir anteriormente em Te Juro.A interpretação de Camané - e já tive o prazer de o ver ao vivo - transpira Fado, e o álbum que tenho em mãos é o resultado de toda a dedicação de quem o ama e nele vive, de quem não descansa enquanto não cantar a história como ela deve ser contada para que, mais que palavras soltas, o público leve consigo tudo o que elas querem dizer.Para mim, Camané continua a ser um dos melhores do Fado, e este álbum veio só fazer renovações de precaução em alicerces já perfeitamente assentes.Faço-lhe aqui uma vénia alongada e primo o play de novo, abandonada de mim neste Infinito Presente. 

Carina Pereira

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