Lavadeira
De manhã quando endireito
A lapela do casaco
Imagino as mãos dela
A pousarem-me no peito
A fazerem o que eu faço
Lavadeira de olhos negros
Canta baixinho e sorri
E eu dou por mim pensando
Que seria se soubesses
O quanto eu gosto de ti
Passa sempre de mansinho
Trauteando uma canção
E enquanto ela vai passando
Eu vou olhando e sonhando,
Porque a amo sem razão
Quantas vezes fui ao rio
As minhas saudades matar
Mas ao ver-te tão bonita
Queixo erguido, mão na cinta,
Só as consigo aumentar
Quem sabe um destes dias
Quando fizer mais calor
Eu te leve roupas minhas
E, já que não adivinhas,
Te fale do nosso amor
Minha mulher lavadeira
Fitando as negras pedras
Não vês que neste chão
Mora quem tanto te adora
E que importa, essa agora,
Que eu te ame sem razão
*
Carina Pereira