Sab | 16.01.16
Boteco Das Tertúlias |#5 Resoluções De Ano Novo
Carina Pereira
Lá diz a expressão: ano novo, boteco antigo. Ou, se não é uma expressão já, devia ser!Aqui nos encontramos mais uma vez, agora em 2016, para o primeiro Boteco Das Tertúlias do ano. E, para não destoar, trazemos um tema de que muito se fala: resoluções de ano novo.Espero que gostem e, como sempre, não se esqueçam que a esta mesa se sentam mais quatro pensadoras, e que cada uma traz uma perspectiva diferente sobre este assunto. Vão lá lê-las!*Há pessoas que vivem para fazer e outras que vivem para sonhar.Esta é a primeira frase de um pequeno conto que me apareceu de mansinho de madrugada, enquanto eu lutava com um sono que me teimava em fugir. O conto começou com a frase e a ideia tomou vaga forma. Apontei-a, sabendo que precisava de tempo para com ela brincar, tempo fora daquela madrugada sem sono, um tempo que não fosse contado, nem apressado. Esse tempo nunca mais chegou.A frase ficou perdida no caderno que a acolheu, saltitou em mim uma ou outra vez, sem que eu resolvesse sentar-me para lhe dar o que me pedia: forma. É a ironia que a salva agora e, sem a afastar definitavamente da história a que pertence de raiz, a assenta nesta reflexão que faço.Talvez eu seja uma pessoa-sonho, e não uma pessoa-faz. Talvez os sonhos sejam tão altos que alcançá-los me dê vertigens. Mas, como posso eu saber que tenho vertigens desses sonhos se nem sequer me dou ao medo que é subi-los?Não faço resoluções de ano novo, porque não tenho medo de falhar. Melhor: não me quero dar ao ter medo de falhar, porque isso complica as coisas. E as resoluções, se não forem para cumprir, mas para falhar, de nada servem. Gosto, no entanto, de tentar ser mais o que eu quero ser, tornar-me num eu que me agrade, dia-a-dia. Houve alturas em que não gostei de mim, por não estar onde eu queria e parecer incapaz de dar o passo que era preciso para me encontrar de novo. Hoje, já dei o passo e foi mais fácil do que julgava. Quem sabe, talvez tivesse sido mesmo a altura certa. Talvez, de certa forma, às vezes as resluções nos façam a nós.Mesmo sem resoluções definidas, os começos de ano parecem-me sempre bons para inícios. São a desculpa perfeita para virar uma qualquer página, para acender uma outra esperança. E é preciso ir acendendo esperanças, ir acreditando que, se começarmos na segunda levaremos tudo avante até sexta. Mesmo que se desista a uma quinta; é o acreditar que, eventualmente, nos leva até ao fim.
Carina Pereira