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Contador D'Estórias

Um blog com estórias dentro.

Contador D'Estórias

Um blog com estórias dentro.

Qua | 02.03.16

Sad British Pop Music

Carina Pereira
Chegaste de sorriso nos lábios e olhos contentes por me ver. Abri-te a porta de minha casa e espreitei para a caixa de cartão que carregavas nos braços; discos, de bandas que eu mal conhecia na altura e que agora sei de cor. E não só os nomes, mas as músicas, as letras, cada entrelinha por contar que tu encontravas ao escutá-las. Música triste, na sua maioria, de sotaque britânico e dialectos que eu mal entendia.Sentámo-nos os dois no chão da sala, encostados ao sofá e um ao outro, e tu tomaste conta da minha aprelhagem antiga como se a conhececes melhor do que me sabias já a mim. E a música rodou, vezes sem conta, e das tuas mãos para as minhas passaram os booklets, e da tua boca para a minha passaram os tons, os sons, e os beijos que me davas, até a música se perder em ruído de fundo, e as tuas mãos me percorrerem com a mesma minúcia com que um maestro percorre as notas de uma pauta. Eram assim as nossas tardes: infinitas e perdidas em cantigas de amor. Eram de amor, se as escutávamos. Eram todas de amor em nós.Um dia, quando eu já te sabia tão de cor quanto as músicas que tu me deras e que agora nos pertenciam, aos dois, e tu já me sabias tão de cor quanto eu te sabia a ti, baixaste o volume e pousaste a cabeça no meu ombro. Baixinho, como quem recita em segredo uma poesia, disseste:- Se um dia nos separarmos todas estas músicas me vão lembrar de ti.Levantei os olhos do desenho que fazia.- Nunca as ofereceste a mais ninguém?- Nunca. – afirmaste, numa jura  – Se algum dia nos separarmos, todas estas músicas vão ser nossas, e eu não as vou poder ouvir mais.Sorri, com satisfação.- Então, acho que vamos ter que ficar juntos para sempre.Olhares presos, de quem está seguro de que a vida é melhor porque está entrelaçada neste emaranhado chamado amor.Voltei ao meu desenho nesse instante em que respondeste:- Acho que vamos mesmo.Abriste a mão. Era brilhante o que me oferecias, mas simples, como eram simples as nossas tardes à volta destes discos e deste amor.- Casas comigo?Por todas as músicas que para ti e por ti cantei, por todos os discos que escolhemos juntos e aos quais enchemos com as nossas histórias, por todas as tardes em que nos encostámos ao sofá, e um ao outro, sabias já a minha resposta. Entoei-a na mesma, como quem entoa o refrão da sua música favorita. Tu sempre foste a minha.

Carina Pereira

https://play.spotify.com/user/amyschmidt/playlist/3pqHqa55QvgEcMDIUwQFOl
Qua | 02.03.16

Sad British Pop Music

Carina Pereira
Chegaste de sorriso nos lábios e olhos contentes por me ver. Abri-te a porta de minha casa e espreitei para a caixa de cartão que carregavas nos braços; discos, de bandas que eu mal conhecia na altura e que agora sei de cor. E não só os nomes, mas as músicas, as letras, cada entrelinha por contar que tu encontravas ao escutá-las. Música triste, na sua maioria, de sotaque britânico e dialectos que eu mal entendia.Sentámo-nos os dois no chão da sala, encostados ao sofá e um ao outro, e tu tomaste conta da minha aprelhagem antiga como se a conhececes melhor do que me sabias já a mim. E a música rodou, vezes sem conta, e das tuas mãos para as minhas passaram os booklets, e da tua boca para a minha passaram os tons, os sons, e os beijos que me davas, até a música se perder em ruído de fundo, e as tuas mãos me percorrerem com a mesma minúcia com que um maestro percorre as notas de uma pauta. Eram assim as nossas tardes: infinitas e perdidas em cantigas de amor. Eram de amor, se as escutávamos. Eram todas de amor em nós.Um dia, quando eu já te sabia tão de cor quanto as músicas que tu me deras e que agora nos pertenciam, aos dois, e tu já me sabias tão de cor quanto eu te sabia a ti, baixaste o volume e pousaste a cabeça no meu ombro. Baixinho, como quem recita em segredo uma poesia, disseste:- Se um dia nos separarmos todas estas músicas me vão lembrar de ti.Levantei os olhos do desenho que fazia.- Nunca as ofereceste a mais ninguém?- Nunca. – afirmaste, numa jura  – Se algum dia nos separarmos, todas estas músicas vão ser nossas, e eu não as vou poder ouvir mais.Sorri, com satisfação.- Então, acho que vamos ter que ficar juntos para sempre.Olhares presos, de quem está seguro de que a vida é melhor porque está entrelaçada neste emaranhado chamado amor.Voltei ao meu desenho nesse instante em que respondeste:- Acho que vamos mesmo.Abriste a mão. Era brilhante o que me oferecias, mas simples, como eram simples as nossas tardes à volta destes discos e deste amor.- Casas comigo?Por todas as músicas que para ti e por ti cantei, por todos os discos que escolhemos juntos e aos quais enchemos com as nossas histórias, por todas as tardes em que nos encostámos ao sofá, e um ao outro, sabias já a minha resposta. Entoei-a na mesma, como quem entoa o refrão da sua música favorita. Tu sempre foste a minha.

Carina Pereira

https://play.spotify.com/user/amyschmidt/playlist/3pqHqa55QvgEcMDIUwQFOl
Qua | 02.03.16

Blogazine #9

Carina Pereira
Março traz consigo a promessa de melhor tempo, de dias maiores, e uma das estações mais bonitas do ano. Enquanto a Primavera não chega, a nova edição da Blogazine sai para as bancas digitais, para nos entreter a espera.Este mês trago mais uma resenha com a chancela da Chiado Editora, do livro O Gato Negro De Tão Preto Que Era, e também a crítica ao disco de Miguel Araújo, Cidade Grande Ao Vivo No Coliseu Do Porto.Como é já costumeiro fica aqui o link para a revista completa e, em baixo, os dois textos que escrevi, para uma melhor leitura.A Blogazine oferece a oportunidade de ganharem bilhetes para a Expocosmética, não deixem de participar!

Carina Pereira


Miguel Araújo: Cidade Grande Ao Vivo no Coliseu do Porto

Um ano após o fabuloso concerto com que Miguel Araújo nos agraciou no Coliseu do Porto, surge para venda, numa edição limitada e numerada, todo o registo dessa noite memorável.O álbum é composto por dois discos e um DVD, dando oportunidade a quem lá não esteve de observar o talento do cantautor, e a quem teve a sorte de fazer parte deste público, a possibilidade de viver este espetáculo novamente no conforto das suas casas. Vinte e uma faixas em pouco mais de duas horas, para nos entretermos e deliciarmos.A base do concerto foi o disco homónimo, Cidade Grande, e para além de canções como Contamina-me, Dona Laura, ou a tão popular Os Maridos das Outras,  houve ainda muitos momentos dignos de referência nessa noite, e várias participações especiais. Inês Viterbo acompanhou Miguel Araújo em Balada Astral, António Zambujo emprestou a sua voz a Romaria Das Festas De Santa Eufémia e Pica do Sete, e Ana Moura partilhou com Miguel a canção que este compôs para o seu álbum Desfado, E Tu Gostavas De Mim, convidados que abrilhantaram ainda mais um palco já repleto de talento musical.O ponto alto da noite, no entanto, foi o mais improvável de todos: a banda que inspirou Miguel Araújo para a música, composta pelos tios do cantor e denominada de Os Kappas, entrou em cena com timidez e deixou toda a gente em êxtase. Não se esperava, por certo, o espetáculo que se seguiu, numa cover de Bob Dylan, Like A Rolling Stone. O coliseu cantou de pé, e Os Kappas mereceram os aplausos efusivos com que a audiência em esteria os brindou.É um álbum que, acredito, se tornará um pedaço importante de história na música Portuguesa, de um artista que já prestou provas sólidas daquilo de que é feito e de quem, tenho a certeza, um dia ouviremos falar com a mesma reverência que se guarda para, por exemplo, Rui Veloso. Pelo talento, pelo trabalho, pelo amor que entrega à música.Este Cidade Grande Ao Vivo no Coliseu do Porto é um gosto para os sentidos.

blogazine

O Gato Negro De Tão Preto Que Era

O livro, da autoria de Vírgilio Marques que, nesta obra, se assina debaixo do pseudónimo Lobo Mata, traz-nos uma série de contos curiosos. Ao lê-lo, é como se um avô ou parente mais velho nos estivesse a contar histórias do seu tempo, cheias de traquinices e tipicalidades próprias de uma outra era. Muitas das palavras são antigas, pertencem ao vocabulário ancião, e também as vivências retratadas se assentam numa vida de aldeia.Ao entranharmo-nos nos vários contos, quase conseguimos sentir o viver que ali se exprime. Brincadeiras de rapazes em tempos onde as horas se marcavam pelo sol, estratagemas que hoje em dia pouco lucro dariam, e vidas pacatas de que todos nós já ouvimos falar, contadas com saudade por quem, na sua meninice, as experienciou. Há aqui espaço para (des)gostos de amor, para fugas à polícia, e para a honestidade e simplicidade dos tempos antigos.A embelezar cada um destes dezasseis contos, constam ilustrações de Maria Freitas. Desenhos que, a cada capítulo, se apresentam como uma janela aberta para a história que se desvenda de seguida.Uma boa recomendação para quem ainda busca a magia das histórias contadas oralmente.
Qua | 02.03.16

Blogazine #9

Carina Pereira
Março traz consigo a promessa de melhor tempo, de dias maiores, e uma das estações mais bonitas do ano. Enquanto a Primavera não chega, a nova edição da Blogazine sai para as bancas digitais, para nos entreter a espera.Este mês trago mais uma resenha com a chancela da Chiado Editora, do livro O Gato Negro De Tão Preto Que Era, e também a crítica ao disco de Miguel Araújo, Cidade Grande Ao Vivo No Coliseu Do Porto.Como é já costumeiro fica aqui o link para a revista completa e, em baixo, os dois textos que escrevi, para uma melhor leitura.A Blogazine oferece a oportunidade de ganharem bilhetes para a Expocosmética, não deixem de participar!

Carina Pereira


Miguel Araújo: Cidade Grande Ao Vivo no Coliseu do Porto

Um ano após o fabuloso concerto com que Miguel Araújo nos agraciou no Coliseu do Porto, surge para venda, numa edição limitada e numerada, todo o registo dessa noite memorável.O álbum é composto por dois discos e um DVD, dando oportunidade a quem lá não esteve de observar o talento do cantautor, e a quem teve a sorte de fazer parte deste público, a possibilidade de viver este espetáculo novamente no conforto das suas casas. Vinte e uma faixas em pouco mais de duas horas, para nos entretermos e deliciarmos.A base do concerto foi o disco homónimo, Cidade Grande, e para além de canções como Contamina-me, Dona Laura, ou a tão popular Os Maridos das Outras,  houve ainda muitos momentos dignos de referência nessa noite, e várias participações especiais. Inês Viterbo acompanhou Miguel Araújo em Balada Astral, António Zambujo emprestou a sua voz a Romaria Das Festas De Santa Eufémia e Pica do Sete, e Ana Moura partilhou com Miguel a canção que este compôs para o seu álbum Desfado, E Tu Gostavas De Mim, convidados que abrilhantaram ainda mais um palco já repleto de talento musical.O ponto alto da noite, no entanto, foi o mais improvável de todos: a banda que inspirou Miguel Araújo para a música, composta pelos tios do cantor e denominada de Os Kappas, entrou em cena com timidez e deixou toda a gente em êxtase. Não se esperava, por certo, o espetáculo que se seguiu, numa cover de Bob Dylan, Like A Rolling Stone. O coliseu cantou de pé, e Os Kappas mereceram os aplausos efusivos com que a audiência em esteria os brindou.É um álbum que, acredito, se tornará um pedaço importante de história na música Portuguesa, de um artista que já prestou provas sólidas daquilo de que é feito e de quem, tenho a certeza, um dia ouviremos falar com a mesma reverência que se guarda para, por exemplo, Rui Veloso. Pelo talento, pelo trabalho, pelo amor que entrega à música.Este Cidade Grande Ao Vivo no Coliseu do Porto é um gosto para os sentidos.

blogazine

O Gato Negro De Tão Preto Que Era

O livro, da autoria de Vírgilio Marques que, nesta obra, se assina debaixo do pseudónimo Lobo Mata, traz-nos uma série de contos curiosos. Ao lê-lo, é como se um avô ou parente mais velho nos estivesse a contar histórias do seu tempo, cheias de traquinices e tipicalidades próprias de uma outra era. Muitas das palavras são antigas, pertencem ao vocabulário ancião, e também as vivências retratadas se assentam numa vida de aldeia.Ao entranharmo-nos nos vários contos, quase conseguimos sentir o viver que ali se exprime. Brincadeiras de rapazes em tempos onde as horas se marcavam pelo sol, estratagemas que hoje em dia pouco lucro dariam, e vidas pacatas de que todos nós já ouvimos falar, contadas com saudade por quem, na sua meninice, as experienciou. Há aqui espaço para (des)gostos de amor, para fugas à polícia, e para a honestidade e simplicidade dos tempos antigos.A embelezar cada um destes dezasseis contos, constam ilustrações de Maria Freitas. Desenhos que, a cada capítulo, se apresentam como uma janela aberta para a história que se desvenda de seguida.Uma boa recomendação para quem ainda busca a magia das histórias contadas oralmente.