Gosto muito de bolachas de aveia. Além de serem - em geral - mais saudáveis, vão maravilhosamente bem com o meu adorado chá. Aqui na Bélgica, no entanto, não é muito fácil encontrar bolachas de aveia que me agradem.Hoje decidi procurar uma receita de bolachas de aveia, porque tinha ali uns flocos que não iria usar e virei-me, como é tanto meu costume, para o site Sabor Intenso. Eles têm receitas deliciosas e as minhas favoritas acabam sempre por ser daqui.Assim, aqui fica a receita que encontrei. São mesmo muito boas. A única coisa que mudei foi a quantidade de açúcar. A receita pede 250 gr (mas eu achei um exagero) e eu coloquei à volta de 100 gr. Também usei açúcar mascavado em vez de açúcar amarelo. Tal como diz na receita, dependendo do tamanho das bolachas que fizerem, dá umas trinta.Para quem gosta de bolachas de aveia é uma receita a guardar. Eu vou ter concerteza sempre destas bolachinhas por casa.
Gosto muito de bolachas de aveia. Além de serem - em geral - mais saudáveis, vão maravilhosamente bem com o meu adorado chá. Aqui na Bélgica, no entanto, não é muito fácil encontrar bolachas de aveia que me agradem.Hoje decidi procurar uma receita de bolachas de aveia, porque tinha ali uns flocos que não iria usar e virei-me, como é tanto meu costume, para o site Sabor Intenso. Eles têm receitas deliciosas e as minhas favoritas acabam sempre por ser daqui.Assim, aqui fica a receita que encontrei. São mesmo muito boas. A única coisa que mudei foi a quantidade de açúcar. A receita pede 250 gr (mas eu achei um exagero) e eu coloquei à volta de 100 gr. Também usei açúcar mascavado em vez de açúcar amarelo. Tal como diz na receita, dependendo do tamanho das bolachas que fizerem, dá umas trinta.Para quem gosta de bolachas de aveia é uma receita a guardar. Eu vou ter concerteza sempre destas bolachinhas por casa.
E porque a blogosfera é um banquete de ideias geniais e gente com vontade de as dar a conhecer, surge um novo grupo onde as reflexões e a partilha são um impulsionador de engrenagens.Blogues À Mesa é a página do facebook onde nós, bloguers, nos reunimos para falar de tudo o que seja pertinente, para nos entreajudarmos e para nos sentirmos mais em casa neste mundo imenso da esfera bloguista.Podem aceder à página aqui!Venham conhecer quem dela faz parte e, quem sabe, juntar-se a nós também!
E porque a blogosfera é um banquete de ideias geniais e gente com vontade de as dar a conhecer, surge um novo grupo onde as reflexões e a partilha são um impulsionador de engrenagens.Blogues À Mesa é a página do facebook onde nós, bloguers, nos reunimos para falar de tudo o que seja pertinente, para nos entreajudarmos e para nos sentirmos mais em casa neste mundo imenso da esfera bloguista.Podem aceder à página aqui!Venham conhecer quem dela faz parte e, quem sabe, juntar-se a nós também!
Sacrilégio, bem sei. Ter assim, à mão, algo tão sagrado e não o partilhar. Mas, aqui me redimo!Querem a receita de pão mais deliciosa do mundo? E a mais fácil também?Aqui fica. Simples, sem precisar de amassar. É só juntar os ingredientes e ter paciência para esperar. No fim, a recompensa é um pão tipo broa, estaladiço, maravilhoso!Ingredientes
400 gr. de farinha
325 ml de água (pode ser preciso acrescentar mais um pouco)
1/4 de colher de sopa de fermento seco
1 e 1/4 colher de sopa de sal
Preparação
Virar tudo para um recipiente e misturar. Tapar com papel vegetal e deixar a temperatura ambiente durante 18 horas.
Numa superfície com farinha virar o preparado e mexê-lo um pouco com as mãos, incorporando-o.
Envolvê-lo em película aderente e deixar repousar 15 minutos.
Estender um pano, polvilhá-lo com farinha e colocar lá a massa, fechar o pano (ter atenção que haja farinha também por cima do pão, para não colar ao pano) e deixar levedar duas horas.
Colocar a massa numa terrina de ir ao forno com tampa, como esta por exemplo, e deixar cozer a 180 graus até estar cozido e moreno em cima (no meu forno fica mais ou menos 45 minutos).
Aqui fica a receita original, em Inglês, que uma amiga partilhou no facebook.*Bem sei que o tempo de espera é grande, mas deixando de um dia para o outro acaba por ser muito simples, e vale bem a pena.Fica aqui uma fotografia de um que fiz - tenho feito agora todas as semanas mas, em vez de cozer uma broa completa, parto aos bocados e cozo pãezinhos.Espero que gostem!
Sacrilégio, bem sei. Ter assim, à mão, algo tão sagrado e não o partilhar. Mas, aqui me redimo!Querem a receita de pão mais deliciosa do mundo? E a mais fácil também?Aqui fica. Simples, sem precisar de amassar. É só juntar os ingredientes e ter paciência para esperar. No fim, a recompensa é um pão tipo broa, estaladiço, maravilhoso!Ingredientes
400 gr. de farinha
325 ml de água (pode ser preciso acrescentar mais um pouco)
1/4 de colher de sopa de fermento seco
1 e 1/4 colher de sopa de sal
Preparação
Virar tudo para um recipiente e misturar. Tapar com papel vegetal e deixar a temperatura ambiente durante 18 horas.
Numa superfície com farinha virar o preparado e mexê-lo um pouco com as mãos, incorporando-o.
Envolvê-lo em película aderente e deixar repousar 15 minutos.
Estender um pano, polvilhá-lo com farinha e colocar lá a massa, fechar o pano (ter atenção que haja farinha também por cima do pão, para não colar ao pano) e deixar levedar duas horas.
Colocar a massa numa terrina de ir ao forno com tampa, como esta por exemplo, e deixar cozer a 180 graus até estar cozido e moreno em cima (no meu forno fica mais ou menos 45 minutos).
Aqui fica a receita original, em Inglês, que uma amiga partilhou no facebook.*Bem sei que o tempo de espera é grande, mas deixando de um dia para o outro acaba por ser muito simples, e vale bem a pena.Fica aqui uma fotografia de um que fiz - tenho feito agora todas as semanas mas, em vez de cozer uma broa completa, parto aos bocados e cozo pãezinhos.Espero que gostem!
Neste Fevereiro de tempestade, despedimo-nos de uma das partes deste nosso boteco. A Catarina, do byCatarina.com, foi obrigada a deixar-nos por obrigações profissionais. Para trás deixa excelentes contribuições e aconselho todos a darem uma vista de olhos ao blog dela. Da nossa parte, agradecemos o tempo que pudemos contar com a sua colaboração.Mas, como tão bem cantaria Freddie Mercury, The Show Must Go On, e aqui estamos nós agora - reduzidas a quatro elementos, mas com vontade de trabalhar - para vos continuar a fazer chegar um novo tema a cada mês.Desta vez, porque a época assim o pede, falamos sobre o dia do amor. Apeteceu-nos trazer à baila o Santinho dos Corações, festejado a 14 de Fevereiro em todo o mundo.Deixo-vos a minha reflexão sobre esta data e convido-vos a espreitarem também os outros cantinhos que tornam este boteco numa tertúlia completa:A Limonada Da VidaEspresso And StroopwafelEspresso And StroopwafelLife's TexturesE que o amor - em todas as formas e feitios - vos sorria sempre! Até ao mês que vem!* Já vem sendo hábito, em datas tomadas como especiais, serem apregoadas pela blogosfera as duas faces de uma mesma moeda: por um lado o sentimentalismo intrínseco à data em questão, as mensagens cliché cheias de boa vontade e a crença de que, neste dia, tudo é luminoso e puro. Por outro, lá vem a torrente de mal-dizer, de apregoar aos quatro cantos a inutilidade de tal data, variações, no fundo, de uma mesma frase-cliché adaptada ao momento: o (preencher de acordo com a data relevante) é quando um homem quer.Certo. As datas especiais são quando cada um de nós quer, e não precisamos de aguardar ansiosamente agarrados ao calendário, para finalmente fazermos o que quer que seja: uma doação, um gesto bonito, oferecermos uma flor ou juras de amor eterno. Mas isso também não significa que estar certo passe por esmifrar com desdém cada data-cliché, - que são todas elas, se pensarmos bem - que acordar de manhã com um ódio medonho àquilo que a maioria ama nos torne melhores do que os outros, mais atentos, mais dignos dos gestos que fazemos. Afinal, se todos os dias são dias de demonstrar o amor pelos outros, talvez este dia o possa ser ainda mais.Não concordo que o São Valentim ou o Natal se tenham tornado datas meramente comerciais. Não, as pessoas é que se tornaram mais comerciais, e isso surge de um aumento do poder de compra e não de uma diminuição nos valores morais. No tempo da minha mãe, havia castanhas no sapatinho. O que não se podia dar, era retribuido em amor e carinho. Hoje em dia, a minha sobrinha recebe mais prendas do que aquelas que consegue contar, e também recebe em dobro amor e carinho. As prendas não são substitutos de afectos mas, é um facto, damos mais prendas materiais a quem mais amamos. Quando podemos. Porque o material, conquanto não possa preencher o que o amor oferece, pode ser um extra nesta coisa de mostrarmos aos outros o quanto gostamos deles. Desde que, na sua falta, continuemos a saber que um beijo vale mais do que um relógio novo.Odiar São Valentim, porque está mais cheio de jantares caros à luz de velas, e prendas que não se dão em tal quantidade no ano inteiro, parece-me exactamente o oposto do que esta data precisa.A par com os actos de amor, talvez este dia se tenha tornado também uma desculpa para os solteiros celebrarem a sua condição com maior euforia, mas que mal há nisso? Não há nada de ridículo em juntar quem se ressente mais neste dia, porque não há uma companhia para partilhar a data, quem finge que dela não precisa ou quem, efectivamente, está muito bem solteiro. Ridículo é usar as fragilidades dos outros para lhes tentar cortar as asas, apontar com dedo certeiro uma atitude que não magoa ninguém. Que os restaurantes se encham também de solteiros – ressabiados, até – para que este dia deixe de fazer sentir tão só quem, à sua passagem, se perde em memórias e ânsias daquilo que não volta ou do que ainda não chegou.Não quero, de todo, dizer que a data tem que agradar a quem quer que seja. Não tem. Mas não é preciso achincalhar com desdém quem dela gosta, numa tentativa de se destacar dos outros, tão óbvios, tão materialistas, tão cliché. Tão subjugados a mais um dia que lhes diz o que fazer. Quem ama não precisa do dia para aprender a amar, tal como quem não ama também não saberá amar neste.Nada disso é desculpa para arrastar a data pela lama; São Valentim não morreu para isto.
Neste Fevereiro de tempestade, despedimo-nos de uma das partes deste nosso boteco. A Catarina, do byCatarina.com, foi obrigada a deixar-nos por obrigações profissionais. Para trás deixa excelentes contribuições e aconselho todos a darem uma vista de olhos ao blog dela. Da nossa parte, agradecemos o tempo que pudemos contar com a sua colaboração.Mas, como tão bem cantaria Freddie Mercury, The Show Must Go On, e aqui estamos nós agora - reduzidas a quatro elementos, mas com vontade de trabalhar - para vos continuar a fazer chegar um novo tema a cada mês.Desta vez, porque a época assim o pede, falamos sobre o dia do amor. Apeteceu-nos trazer à baila o Santinho dos Corações, festejado a 14 de Fevereiro em todo o mundo.Deixo-vos a minha reflexão sobre esta data e convido-vos a espreitarem também os outros cantinhos que tornam este boteco numa tertúlia completa:A Limonada Da VidaEspresso And StroopwafelEspresso And StroopwafelLife's TexturesE que o amor - em todas as formas e feitios - vos sorria sempre! Até ao mês que vem!* Já vem sendo hábito, em datas tomadas como especiais, serem apregoadas pela blogosfera as duas faces de uma mesma moeda: por um lado o sentimentalismo intrínseco à data em questão, as mensagens cliché cheias de boa vontade e a crença de que, neste dia, tudo é luminoso e puro. Por outro, lá vem a torrente de mal-dizer, de apregoar aos quatro cantos a inutilidade de tal data, variações, no fundo, de uma mesma frase-cliché adaptada ao momento: o (preencher de acordo com a data relevante) é quando um homem quer.Certo. As datas especiais são quando cada um de nós quer, e não precisamos de aguardar ansiosamente agarrados ao calendário, para finalmente fazermos o que quer que seja: uma doação, um gesto bonito, oferecermos uma flor ou juras de amor eterno. Mas isso também não significa que estar certo passe por esmifrar com desdém cada data-cliché, - que são todas elas, se pensarmos bem - que acordar de manhã com um ódio medonho àquilo que a maioria ama nos torne melhores do que os outros, mais atentos, mais dignos dos gestos que fazemos. Afinal, se todos os dias são dias de demonstrar o amor pelos outros, talvez este dia o possa ser ainda mais.Não concordo que o São Valentim ou o Natal se tenham tornado datas meramente comerciais. Não, as pessoas é que se tornaram mais comerciais, e isso surge de um aumento do poder de compra e não de uma diminuição nos valores morais. No tempo da minha mãe, havia castanhas no sapatinho. O que não se podia dar, era retribuido em amor e carinho. Hoje em dia, a minha sobrinha recebe mais prendas do que aquelas que consegue contar, e também recebe em dobro amor e carinho. As prendas não são substitutos de afectos mas, é um facto, damos mais prendas materiais a quem mais amamos. Quando podemos. Porque o material, conquanto não possa preencher o que o amor oferece, pode ser um extra nesta coisa de mostrarmos aos outros o quanto gostamos deles. Desde que, na sua falta, continuemos a saber que um beijo vale mais do que um relógio novo.Odiar São Valentim, porque está mais cheio de jantares caros à luz de velas, e prendas que não se dão em tal quantidade no ano inteiro, parece-me exactamente o oposto do que esta data precisa.A par com os actos de amor, talvez este dia se tenha tornado também uma desculpa para os solteiros celebrarem a sua condição com maior euforia, mas que mal há nisso? Não há nada de ridículo em juntar quem se ressente mais neste dia, porque não há uma companhia para partilhar a data, quem finge que dela não precisa ou quem, efectivamente, está muito bem solteiro. Ridículo é usar as fragilidades dos outros para lhes tentar cortar as asas, apontar com dedo certeiro uma atitude que não magoa ninguém. Que os restaurantes se encham também de solteiros – ressabiados, até – para que este dia deixe de fazer sentir tão só quem, à sua passagem, se perde em memórias e ânsias daquilo que não volta ou do que ainda não chegou.Não quero, de todo, dizer que a data tem que agradar a quem quer que seja. Não tem. Mas não é preciso achincalhar com desdém quem dela gosta, numa tentativa de se destacar dos outros, tão óbvios, tão materialistas, tão cliché. Tão subjugados a mais um dia que lhes diz o que fazer. Quem ama não precisa do dia para aprender a amar, tal como quem não ama também não saberá amar neste.Nada disso é desculpa para arrastar a data pela lama; São Valentim não morreu para isto.
A Ana do blog Anas Há Muitas teve a amabilidade de me fazer esta pequena entrevista! Fiquem a saber um pouco mais sobre mim, e sigam o blog dela, vale a pena! :DFonte: BlogMania #5 CONTADOR D’ESTÓRIAS
A Ana do blog Anas Há Muitas teve a amabilidade de me fazer esta pequena entrevista! Fiquem a saber um pouco mais sobre mim, e sigam o blog dela, vale a pena! :DFonte: BlogMania #5 CONTADOR D’ESTÓRIAS
Parte I O tecto acima de mim era branco. Bem, quase. Havia lá marcas que nenhum de nós conseguira apagar naquela sexta-feira de férias em que o pintámos a dois. Não foi, como os ecrãs de cinema nos mostram tantas vezes, um pintar cheio de risos e caras sujas, mas felizes. Aborrecemo-nos, porque estávamos cansados depois de uma semana de mudanças que ainda nem sequer estavam terminadas, zangámo-nos porque férias não era sinónimo daquilo, e acabamos a jantar frente-a-frente sem dizer uma palavra, aí sim, cheios de tinta nas mãos, nos cabelos, e na cara. Nenhum de nós era exactamente um pintor exímio.Só voltamos a dirigir palavras quando, estafados, acabamos por nos aconchegar nos braços um do outro. Eu fui tomar banho, e senti a tua mão gelada nas minhas costas, pedidndo para ocupar algum do espaço. Sabia que a água, assim em jorro, não nos ia aquecer aos dois, mas o teu abraço aquecer-me-ia o suficiente. Não tentámos pintar melhor o tecto; afinal, era só um tecto.O tecto acima de mim era quase branco e eu senti a tua mão a percorrer às cegas o meu braço nu. Olhei-te, embalado pela tua carícia, e no meu suspiro sussurraste o desafio proposto quero ter um bebé teu. E aquilo era tudo o que eu queria, porque eu também queria ter um bebé teu. Ou dois. Mas, para já, um parecia-me bem.Ainda levaste um mês ou dois a deitar no lixo o que até agora nos impedira de ser pais. Ainda levaste um mês ou dois a enrolar a palavra na tua língua para ter a certeza que o papel te serviria. Mãe. Ías dizendo baixinho, para ti, e eu ouvia e sorria sem dizer nada. Também eu, em lugares-comum do meu dia segredava o papel que me cabería, e cada vez mais deixava de ser eu apenas eu, e era eu, Pai.Ainda levou pouco mais de um ano a percebermos que as palavras sussurradas e o desejo destas se tornarem nomes, os nossos nomes, não estavam a ser suficientes. A primeira parte foi fácil. Exames. Demos aquilo que nos pediram. Depois, e é neste depois que sempre me recordo daquele tecto quase branco.As palavras do médico eram distintas. Fáceis de compreender. Fiquei ali por uns minutos, a tentar apenas saber ao certo como reagir. Afinal, o problema era eu. Infértil. Não, não havia forma alguma de eu poder ser pai. Falou de opções, claro. Ouvimo-las em silêncio e saímos sem que nos pressionassem a tomar alguma.Caminhámos do consultório até ao carro, e nunca um caminho me pareceu tão longo. Não trocámos palavra, não nos olhámos sequer. Queria o teu abraço, aquele que me deste quando me roubaste o espaço no chuveiro, ou talvez quisesse apenas voltar atrás, quando as certezas eram outras. Quando as certezas eram ainda possibilidades. Não tive nenhuma das coisas que queria. Só aquele silêncio estéril. Como eu.Sentei-me no lugar do condutor; irónico, visto que eu estava tão perdido. Tu sentaste-te no lugar de sempre, ao meu lado. No carro, e na vida, sempre ao meu lado. Como quando eu olhava aquele tecto quase branco e a tua mão me acariciou o braço e me disseste quero ter um bebé teu. Agora, quase te conseguia ouvir dizê-lo de novo. Mas em súplica, em desesperança.Fitávamos o caminho em frente como quem tenta encontrar um futuro qualquer. Foi então que a tua mão encontrou caminho na minha. Primeiro, os teus dedos sobre os meus, depois os teus dedos no meio dos meus. Olhei-te, já que em frente, naquele futuro qualquer, eu não conseguia olhar nada. Sorrias. Não um sorriso, mas um sorriso que era um abraço quente. Olhos rasos de água, sempre a água. Puxaste-me para ti e encostaste-me ao teu corpo, o melhor que conseguias. Tinhamos tanto entre nós agora. Não só as caixa de mudanças do carro, mas metáforas que eram folhas de papel em branco com outros caminhos que íamos ter que traçar. E de novo sussurraste um desafio eu quero ter um filho contigo.Decidimos adoptar. E eu ia dizendo que era loucura, quando a culpa me atacava, porque nunca irias sentir a graça de uma grávida, que era injusto o provilégio que eu te estava a tirar. E tu ias dizendo que era loucura, e que ser mãe era o que querias, o privilégio que eu te estava a dar. Que me perdoavas fazer-te perder as dores de parto, e os enjoos matinais, e os pés inchados ao fim do dia, e não poderes dormir mais de barriga para baixo, como gostavas. Ironizavas, e eu chorava depois quando não me podias ver, mas tu sabias, e de novo me abraçaste e me roubaste espaço no chuveiro e eu entendi que ia ficar tudo bem. Que tu não deixarias que ficasse de outra forma.Três anos depois as palavras materializaram-se. Um rapaz tímido, de sorriso meigo, que outros infertéis de amor tinham deixado para trás. Nele, eras Mãe, e eu era Pai.Anos mais tarde, sentados num banco de jardim a vê-lo brincar, a pergunta surgiu, numa curiosidade sem qualquer pretensão de maldade o vosso pequenote, é mais parecido com quem?Sorriste, olhaste para mim, e respondeste certeira, como sempre tem o coração do pai.Não. Tem o teu. Sempre o teu. Felizmente, o teu.
Parte I O tecto acima de mim era branco. Bem, quase. Havia lá marcas que nenhum de nós conseguira apagar naquela sexta-feira de férias em que o pintámos a dois. Não foi, como os ecrãs de cinema nos mostram tantas vezes, um pintar cheio de risos e caras sujas, mas felizes. Aborrecemo-nos, porque estávamos cansados depois de uma semana de mudanças que ainda nem sequer estavam terminadas, zangámo-nos porque férias não era sinónimo daquilo, e acabamos a jantar frente-a-frente sem dizer uma palavra, aí sim, cheios de tinta nas mãos, nos cabelos, e na cara. Nenhum de nós era exactamente um pintor exímio.Só voltamos a dirigir palavras quando, estafados, acabamos por nos aconchegar nos braços um do outro. Eu fui tomar banho, e senti a tua mão gelada nas minhas costas, pedidndo para ocupar algum do espaço. Sabia que a água, assim em jorro, não nos ia aquecer aos dois, mas o teu abraço aquecer-me-ia o suficiente. Não tentámos pintar melhor o tecto; afinal, era só um tecto.O tecto acima de mim era quase branco e eu senti a tua mão a percorrer às cegas o meu braço nu. Olhei-te, embalado pela tua carícia, e no meu suspiro sussurraste o desafio proposto quero ter um bebé teu. E aquilo era tudo o que eu queria, porque eu também queria ter um bebé teu. Ou dois. Mas, para já, um parecia-me bem.Ainda levaste um mês ou dois a deitar no lixo o que até agora nos impedira de ser pais. Ainda levaste um mês ou dois a enrolar a palavra na tua língua para ter a certeza que o papel te serviria. Mãe. Ías dizendo baixinho, para ti, e eu ouvia e sorria sem dizer nada. Também eu, em lugares-comum do meu dia segredava o papel que me cabería, e cada vez mais deixava de ser eu apenas eu, e era eu, Pai.Ainda levou pouco mais de um ano a percebermos que as palavras sussurradas e o desejo destas se tornarem nomes, os nossos nomes, não estavam a ser suficientes. A primeira parte foi fácil. Exames. Demos aquilo que nos pediram. Depois, e é neste depois que sempre me recordo daquele tecto quase branco.As palavras do médico eram distintas. Fáceis de compreender. Fiquei ali por uns minutos, a tentar apenas saber ao certo como reagir. Afinal, o problema era eu. Infértil. Não, não havia forma alguma de eu poder ser pai. Falou de opções, claro. Ouvimo-las em silêncio e saímos sem que nos pressionassem a tomar alguma.Caminhámos do consultório até ao carro, e nunca um caminho me pareceu tão longo. Não trocámos palavra, não nos olhámos sequer. Queria o teu abraço, aquele que me deste quando me roubaste o espaço no chuveiro, ou talvez quisesse apenas voltar atrás, quando as certezas eram outras. Quando as certezas eram ainda possibilidades. Não tive nenhuma das coisas que queria. Só aquele silêncio estéril. Como eu.Sentei-me no lugar do condutor; irónico, visto que eu estava tão perdido. Tu sentaste-te no lugar de sempre, ao meu lado. No carro, e na vida, sempre ao meu lado. Como quando eu olhava aquele tecto quase branco e a tua mão me acariciou o braço e me disseste quero ter um bebé teu. Agora, quase te conseguia ouvir dizê-lo de novo. Mas em súplica, em desesperança.Fitávamos o caminho em frente como quem tenta encontrar um futuro qualquer. Foi então que a tua mão encontrou caminho na minha. Primeiro, os teus dedos sobre os meus, depois os teus dedos no meio dos meus. Olhei-te, já que em frente, naquele futuro qualquer, eu não conseguia olhar nada. Sorrias. Não um sorriso, mas um sorriso que era um abraço quente. Olhos rasos de água, sempre a água. Puxaste-me para ti e encostaste-me ao teu corpo, o melhor que conseguias. Tinhamos tanto entre nós agora. Não só as caixa de mudanças do carro, mas metáforas que eram folhas de papel em branco com outros caminhos que íamos ter que traçar. E de novo sussurraste um desafio eu quero ter um filho contigo.Decidimos adoptar. E eu ia dizendo que era loucura, quando a culpa me atacava, porque nunca irias sentir a graça de uma grávida, que era injusto o provilégio que eu te estava a tirar. E tu ias dizendo que era loucura, e que ser mãe era o que querias, o privilégio que eu te estava a dar. Que me perdoavas fazer-te perder as dores de parto, e os enjoos matinais, e os pés inchados ao fim do dia, e não poderes dormir mais de barriga para baixo, como gostavas. Ironizavas, e eu chorava depois quando não me podias ver, mas tu sabias, e de novo me abraçaste e me roubaste espaço no chuveiro e eu entendi que ia ficar tudo bem. Que tu não deixarias que ficasse de outra forma.Três anos depois as palavras materializaram-se. Um rapaz tímido, de sorriso meigo, que outros infertéis de amor tinham deixado para trás. Nele, eras Mãe, e eu era Pai.Anos mais tarde, sentados num banco de jardim a vê-lo brincar, a pergunta surgiu, numa curiosidade sem qualquer pretensão de maldade o vosso pequenote, é mais parecido com quem?Sorriste, olhaste para mim, e respondeste certeira, como sempre tem o coração do pai.Não. Tem o teu. Sempre o teu. Felizmente, o teu.
Eis que chega Fevereiro, o mês mais curto do ano, mas longo o suficiente para acolher nos seus dias mais uma edição da Blogazine!Este mês, da minha parte, ficam dois textos, com temas distintos mas interligados pela mesma paixão: o fado. De um lado, o novo disco de Ana Moura, Moura; do outro, o livro da peça Uma Noite Em Casa De Amália, integrado na rubrica já habitual da Chiado Editora.Como é costume, ficam em baixo ambos os textos, para uma leitura directa no blog e, aqui, fica também o link para a revista.Não se esqueçam de seguir a blogazine nas várias redes sociais:Site OficialFacebookInstagramPara o mês que vem há mais, espero que gostem!
Carina Pereira
*
Moura de Ana Moura
Desfado foi o disco português mais vendido dos últimos dez anos. O álbum onde Ana Moura mais arriscou, mais se desprendeu do fado tradicional, e que mais tomou como seu, atingiu a quinta platina na reta final do ano passado. Poucas semanas após o disco ter sido distinguido com este portentoso galardão, é anunciada a preparação de um novo trabalho discográfico, com edição para novembro de 2015.Gravado na Califórnia, com produção a cargo de Larry Klein, Moura atingiu o disco de ouro ainda antes deste sair para as lojas. A pré-venda não foi apenas uma previsão do sucesso que estava para vir, mas a garantia da confiança dos que se acostumaram já à magnificiência de Ana Moura.E não foi exagero; atualmente com a marca de platina, o disco é bem merecedor de atenção.De certa forma, e sem se comparar ao seu precedente, Moura segue um percurso semelhante e vai bordando ao fado outras sonoridades. Já mais confiante para se desprender do fado tradicional depois do sucesso de Desfado, Ana Moura oferece ao álbum o seu nome, considerando ser este o disco que mais de si tem: na vontade de reinventar, e sem medo de o fazer. O fado continua lá, mas à guitarra Portuguesa, – tão mestramente trinada por Ângelo Freire – à viola de fado tocada por Pedro Soares, e ao baixo que ressoa pelas mãos de Dan Lutz, os três intrumentos típicos do nosso fado, mesclam-se os batuques da percussão de Pete Korpela e da bateria de Vinnie Colaiuta, a guitarra elétrica de Dean Parks e o piano de Pete Kuzma.O álbum contém treze faixas e nelas se espraiam os melhores autores da nossa música.O single de lançamento, Dia de Folga, é da autoria de Jorge Cruz dos Diabo na Cruz, com sonoridades bastante dançantes, onde o roque popular dos Diabo se distingue, eliminando qualquer dúvida sobre a autoria deste tema. Já Agora É Que É, composto por Pedro Abrunhosa se desprende completamente daquilo a que estamos habituados a ouvir pela voz do cantor, mas este traz-nos algo mais obviamente seu noutro tema deste álbum, Tens Os Olhos De Deus.Os nomes conhecidos seguem uns atrás dos outros: Miguel Araújo, em Fado Dançado, mais um engenhoso desfiar de trocadilhos a que o cantautor já nos habituou. Márcia assina Desamparo, e Samuel Úria oferece-nos a sua Cantiga de Abrigo. Carlos Tê criou toda uma história em O Meu Amor foi Para O Brasil e Pedro e Luís José Martins, dos Deolinda, oferecem Ai Eu a este leque de talentos. Até os escritos de José Eduardo Agualusa aqui se aportam, no tema homónimo ao disco. Manuela de Freitas, letrista sempre presente nos discos de Camané, consta na primeira faixa do álbum com um lindíssimo poema, Moura Encantada, assente num fado Cravo.A voz de cinza de Ana Moura percorre cada canção com o sentimento que se espera; há alegria, e dança que não se vê mas se adivinha, sente-se na sua interpretação o desconsolo da perda e aquela melancolia de que o fado sempre precisa.Um álbum soberbo, de um nome que já não precisa de se afirmar, mas que o faz a cada tema.
Uma noite em casa de Amália de Filipe La Féria
O génio de Filipe La Féria, a par com o nome, é sobejamente conhecido. A sua paixão por Amália Rodrigues também, e já foi imortalizada diversas vezes sobre os palcos dirigidos pelo encenador e dramaturgo.O musical Amália percorreu as salas de espetáculos do país, numa turné que durou cinco anos e que contou com um elenco de luxo.Uma noite em casa de Amália, no entanto, é para quem admira a nossa diva do fado e oferece-nos uma noite inesquecível: um serão de fado, poesia, debate e também de algum distúrbio. Uma noite boémia, como era a vida de todos os intervenientes; ao longo da peça encontramos, além da anfitriã, os poetas que ela tanto cantou, David Mourão-Ferreira, Ary dos Santos e Vinicius de Moraes, Alain Oulman, que musicou vários poemas interpretados por Amália, a fadista Natália Correia e a pintora Maluda, além de mais uma outra outra personagem menos famosa, mas igualmente importante para a narrativa.É uma tertúlia fadista, que dá espaço ao debate, à crítica ao antigo regime e até mesmo a desentendimentos, que logo ali ficam resolvidos. São vários egos numa sala só, um talento imenso em várias vertentes, numa noite que acaba de madrugada e fica agora registada também em livro.Para quem não teve a oportunidade de assitir à peça, em cena de julho de 2012 a janeiro de 2013, esta é uma obra que vale a pena levar para casa.
Eis que chega Fevereiro, o mês mais curto do ano, mas longo o suficiente para acolher nos seus dias mais uma edição da Blogazine!Este mês, da minha parte, ficam dois textos, com temas distintos mas interligados pela mesma paixão: o fado. De um lado, o novo disco de Ana Moura, Moura; do outro, o livro da peça Uma Noite Em Casa De Amália, integrado na rubrica já habitual da Chiado Editora.Como é costume, ficam em baixo ambos os textos, para uma leitura directa no blog e, aqui, fica também o link para a revista.Não se esqueçam de seguir a blogazine nas várias redes sociais:Site OficialFacebookInstagramPara o mês que vem há mais, espero que gostem!
Carina Pereira
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Moura de Ana Moura
Desfado foi o disco português mais vendido dos últimos dez anos. O álbum onde Ana Moura mais arriscou, mais se desprendeu do fado tradicional, e que mais tomou como seu, atingiu a quinta platina na reta final do ano passado. Poucas semanas após o disco ter sido distinguido com este portentoso galardão, é anunciada a preparação de um novo trabalho discográfico, com edição para novembro de 2015.Gravado na Califórnia, com produção a cargo de Larry Klein, Moura atingiu o disco de ouro ainda antes deste sair para as lojas. A pré-venda não foi apenas uma previsão do sucesso que estava para vir, mas a garantia da confiança dos que se acostumaram já à magnificiência de Ana Moura.E não foi exagero; atualmente com a marca de platina, o disco é bem merecedor de atenção.De certa forma, e sem se comparar ao seu precedente, Moura segue um percurso semelhante e vai bordando ao fado outras sonoridades. Já mais confiante para se desprender do fado tradicional depois do sucesso de Desfado, Ana Moura oferece ao álbum o seu nome, considerando ser este o disco que mais de si tem: na vontade de reinventar, e sem medo de o fazer. O fado continua lá, mas à guitarra Portuguesa, – tão mestramente trinada por Ângelo Freire – à viola de fado tocada por Pedro Soares, e ao baixo que ressoa pelas mãos de Dan Lutz, os três intrumentos típicos do nosso fado, mesclam-se os batuques da percussão de Pete Korpela e da bateria de Vinnie Colaiuta, a guitarra elétrica de Dean Parks e o piano de Pete Kuzma.O álbum contém treze faixas e nelas se espraiam os melhores autores da nossa música.O single de lançamento, Dia de Folga, é da autoria de Jorge Cruz dos Diabo na Cruz, com sonoridades bastante dançantes, onde o roque popular dos Diabo se distingue, eliminando qualquer dúvida sobre a autoria deste tema. Já Agora É Que É, composto por Pedro Abrunhosa se desprende completamente daquilo a que estamos habituados a ouvir pela voz do cantor, mas este traz-nos algo mais obviamente seu noutro tema deste álbum, Tens Os Olhos De Deus.Os nomes conhecidos seguem uns atrás dos outros: Miguel Araújo, em Fado Dançado, mais um engenhoso desfiar de trocadilhos a que o cantautor já nos habituou. Márcia assina Desamparo, e Samuel Úria oferece-nos a sua Cantiga de Abrigo. Carlos Tê criou toda uma história em O Meu Amor foi Para O Brasil e Pedro e Luís José Martins, dos Deolinda, oferecem Ai Eu a este leque de talentos. Até os escritos de José Eduardo Agualusa aqui se aportam, no tema homónimo ao disco. Manuela de Freitas, letrista sempre presente nos discos de Camané, consta na primeira faixa do álbum com um lindíssimo poema, Moura Encantada, assente num fado Cravo.A voz de cinza de Ana Moura percorre cada canção com o sentimento que se espera; há alegria, e dança que não se vê mas se adivinha, sente-se na sua interpretação o desconsolo da perda e aquela melancolia de que o fado sempre precisa.Um álbum soberbo, de um nome que já não precisa de se afirmar, mas que o faz a cada tema.
Uma noite em casa de Amália de Filipe La Féria
O génio de Filipe La Féria, a par com o nome, é sobejamente conhecido. A sua paixão por Amália Rodrigues também, e já foi imortalizada diversas vezes sobre os palcos dirigidos pelo encenador e dramaturgo.O musical Amália percorreu as salas de espetáculos do país, numa turné que durou cinco anos e que contou com um elenco de luxo.Uma noite em casa de Amália, no entanto, é para quem admira a nossa diva do fado e oferece-nos uma noite inesquecível: um serão de fado, poesia, debate e também de algum distúrbio. Uma noite boémia, como era a vida de todos os intervenientes; ao longo da peça encontramos, além da anfitriã, os poetas que ela tanto cantou, David Mourão-Ferreira, Ary dos Santos e Vinicius de Moraes, Alain Oulman, que musicou vários poemas interpretados por Amália, a fadista Natália Correia e a pintora Maluda, além de mais uma outra outra personagem menos famosa, mas igualmente importante para a narrativa.É uma tertúlia fadista, que dá espaço ao debate, à crítica ao antigo regime e até mesmo a desentendimentos, que logo ali ficam resolvidos. São vários egos numa sala só, um talento imenso em várias vertentes, numa noite que acaba de madrugada e fica agora registada também em livro.Para quem não teve a oportunidade de assitir à peça, em cena de julho de 2012 a janeiro de 2013, esta é uma obra que vale a pena levar para casa.