Se A Criança Que Fui Viajasse No Tempo
Se a criança que fui viajasse no tempo
Veria um reflexo do que nunca quis ser,
Olhar-me-ia com dúvida, interromperia o meu passo,
Mostrar-me-ia de novo o que a palavra esperança quer dizer.
Se a crianca que fui viajasse no tempo
Dar-me-ia a mão para eu não cair,
Guiar-me-ia os passos, com enlevo e ternura,
E nos seus pequenos braços embalar-me-ia para dormir.
Pegaria em lápis de cera e folhas rasgadas
E mostrar-me-ia que uma obra de arte
Pode nascer onde eu quiser.
Apontar-me-ia o caminho, com sabedoria,
E saberia, descobriria,
Que há sempre tanto, tanto mais para se ser.
Se a crianca que fui viajasse no tempo
E me visse presa à berma da estrada
Com receio de avançar,
Puxar-me-ia a mão, e o coração,
Dir-me-ia que há muito mais do que medo
Para encontrar.
E eu,
Eu beijar-lhe-ia as feridas dos seus joelhos raspados
E deixaria as palavras servirem de curativo;
Se a criança que fui viajasse no tempo
Tavez acabasse com o meu tormento,
E me mostrasse o caminho de volta
À criança que ainda guardo comigo.
Se a crianca que fui viajasse no tempo,
Entenderia o que o meu passado ao meu futuro roubou;
E eu
Oferecer-lhe-ia talvez o dom mais importante:
Aprender-mos a amar o eu que o nosso eu nunca amou.
Carina Pereira, 7 De Janeiro De 2015
in "Raízes"