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Contador D'Estórias

Um blog com estórias dentro.

Contador D'Estórias

Um blog com estórias dentro.

Qui | 27.11.14

Um Portugal Mais Meu

Carina Pereira
Sou Portuguesa. Nasci na Póvoa de Varzim, distrito do Porto, em ’87. Hoje vivo na Bélgica e hoje o cante Alentejano foi eleito Património Imaterial da Unesco.Nunca fui de mostrar grandes saudades, de deixar o adeus a meio. Deixei Portugal porque quis, e foi melhor assim. Mas o Português cá fora sabe melhor. O Português cá fora entranha-se na aprendizagem de uma língua nova, no enrolar dos sons guturais e da incompreensão. Portugal torna-se mais nosso, mais orgulhoso de si mesmo. Portugal, de que nos queixamos e estamos tão cheios, de repente falta-nos nos trocadilhos que não fazem sentido e no esforço de traduzir, sem graça, os nossos. Falta-nos na troca da torrada e natinha com o galão por uma chávena bem servida de café aguado e bolachinhas boas. Falta-nos na corrida às lojas para vir de mãos vazias de coisas que tinhamos como certas e nem sequer dávamos valor. Falta-nos como a palavra saudade falta a tantos.A música que nos chega aqui como um filho pródigo a quem nunca vestimos túnica, vem nas ondas do éter para desinfectar a ferida, mas ao mesmo tempo colocar-lhe sal. São tantos, alguns tão novos, mas tão bons. Nem sei por onde começar mas como sou parcial, vou pelos meus favoritos, sem ordem certa. António Zambujo. Camané. Ana Moura. Rui Velozo e Mariza. E os jovens também, que já têm um posto merecido: Miguel Araújo, Luísa Sobral, e tantos de quem não me esqueço mas faço de conta para a lista ficar curta. As cantigas estoiram nas aparelhagens, – eu nem sequer tenho rádio em casa, mas aparelhagem é bem mais romântico que mp3 – mas vêm aquecer o coração com um sussurro familiar. Estas palavras eu conheço, mesmo que às vezes tenha de puxar por um dicionário para saber na íntegra o que significam, e são minhas por direito. São lamechas, ridículas, como todas as cartas de amor, mas são minhas, com pronomes possessivos, artigos demonstrativos. Esta é a minha saudade, e só eu a tenho.A minha melancolia vem da falta do que em Portugal tinha com fartura. Do perceber que os vocábulos que eu pronunciei a jorros durante anos, podem ser conjugados tão subtilmente, que de repente o Português se torna mais do que uma língua. É um espólio pessoal, uma amálgama de quadras soltas e castiças que tantas vezes se escondem em fados corridinhos, acompanhados de palmas e ovações de pé mais do que merecidas.Cá fora, tudo se torna mais nosso, porque o orgulho das coisas que os outros não entendem em muito ultrapassa o embaraço das coisas que nos fizeram partir. Cá fora somos todos mais Amália, porque a emoção da nossa música toca até as almas dos que não compreendem as letras.Não deixaria de acenar um adeus a Portugal se tivesse de tomar de novo essa decisão hoje. Mas gostaria de ter amado mais o que era meu quando ainda estava à distância de uma viagem de carro, do abrir da porta de uma padaria, do comprar de um bilhete para o Coliseu.

Carina Pereira

in "Crónicas Ao Acaso"

Qui | 27.11.14

Um Portugal Mais Meu

Carina Pereira
Sou Portuguesa. Nasci na Póvoa de Varzim, distrito do Porto, em ’87. Hoje vivo na Bélgica e hoje o cante Alentejano foi eleito Património Imaterial da Unesco.Nunca fui de mostrar grandes saudades, de deixar o adeus a meio. Deixei Portugal porque quis, e foi melhor assim. Mas o Português cá fora sabe melhor. O Português cá fora entranha-se na aprendizagem de uma língua nova, no enrolar dos sons guturais e da incompreensão. Portugal torna-se mais nosso, mais orgulhoso de si mesmo. Portugal, de que nos queixamos e estamos tão cheios, de repente falta-nos nos trocadilhos que não fazem sentido e no esforço de traduzir, sem graça, os nossos. Falta-nos na troca da torrada e natinha com o galão por uma chávena bem servida de café aguado e bolachinhas boas. Falta-nos na corrida às lojas para vir de mãos vazias de coisas que tinhamos como certas e nem sequer dávamos valor. Falta-nos como a palavra saudade falta a tantos.A música que nos chega aqui como um filho pródigo a quem nunca vestimos túnica, vem nas ondas do éter para desinfectar a ferida, mas ao mesmo tempo colocar-lhe sal. São tantos, alguns tão novos, mas tão bons. Nem sei por onde começar mas como sou parcial, vou pelos meus favoritos, sem ordem certa. António Zambujo. Camané. Ana Moura. Rui Velozo e Mariza. E os jovens também, que já têm um posto merecido: Miguel Araújo, Luísa Sobral, e tantos de quem não me esqueço mas faço de conta para a lista ficar curta. As cantigas estoiram nas aparelhagens, – eu nem sequer tenho rádio em casa, mas aparelhagem é bem mais romântico que mp3 – mas vêm aquecer o coração com um sussurro familiar. Estas palavras eu conheço, mesmo que às vezes tenha de puxar por um dicionário para saber na íntegra o que significam, e são minhas por direito. São lamechas, ridículas, como todas as cartas de amor, mas são minhas, com pronomes possessivos, artigos demonstrativos. Esta é a minha saudade, e só eu a tenho.A minha melancolia vem da falta do que em Portugal tinha com fartura. Do perceber que os vocábulos que eu pronunciei a jorros durante anos, podem ser conjugados tão subtilmente, que de repente o Português se torna mais do que uma língua. É um espólio pessoal, uma amálgama de quadras soltas e castiças que tantas vezes se escondem em fados corridinhos, acompanhados de palmas e ovações de pé mais do que merecidas.Cá fora, tudo se torna mais nosso, porque o orgulho das coisas que os outros não entendem em muito ultrapassa o embaraço das coisas que nos fizeram partir. Cá fora somos todos mais Amália, porque a emoção da nossa música toca até as almas dos que não compreendem as letras.Não deixaria de acenar um adeus a Portugal se tivesse de tomar de novo essa decisão hoje. Mas gostaria de ter amado mais o que era meu quando ainda estava à distância de uma viagem de carro, do abrir da porta de uma padaria, do comprar de um bilhete para o Coliseu.

Carina Pereira

in "Crónicas Ao Acaso"

Qui | 27.11.14

Ah, música

Carina Pereira
Dou por mim a ver a minha criatividade a ser influenciada por tudo o que ouço, desde programas de rádio a músicas. No outro dia no trabalho - e suponho porque ando a ouvir tanta música Portuguesa ultimamente - umas letras vieram-me à cabeça, assim como uma melodia, baixa e indecifrável. Não sei tocar nenhum instrumento musical, por isso compôr torna-se dfícil. Estou a tratar da melodia com o único instrumento que possuo, que é a minha voz. Não é uma voz que cure tristezas, mas dá-me jeito mesmo assim.Amanha, se tudo correr bem e conseguir decorar a melodia toda e fazer a gravação, talvez coloque aqui um link para ouvirem no que é que isto deu. A letra deixo-a aqui para já. Ainda sem titulo, e para ser cantada a duas vozes.*Vou devagarinho pela ruaPara não perder o NorteHoje vais ser meu e eu vou ser tuaVamos fazer a nossa sorteVou devagarinho a olhar p’ró céuCom o peito incandescenteHoje vais ser minha e eu vou ser teuPois o coração não mente
Se o meu pai descobre vai ficar zangadoSe a minha mãe sabe fica o caso arrumadoMas já não sou uma criançaHoje trocamos alianças
Os papéis já estão tratadosFalei com o padre da freguesiaPrometeu guardar segredoDizer uma bonita homilía
Vou devagarinho pela ruaCom o peito incandescenteConto os passos da minha casa até à tuaDe nada desconfia esta genteVou devagarinho a olhar p’ro céuPara não perder o norteSei de cor os passos que me levam até tiAté ao teu abraço forte
O meu irmão emprestou-me o fatoA tua irmã comprou os anéisNão são muitos os que sabemSó os nossos mais fiéis
Convidamos dois amigosVêm para testemunharVão levar a boa novaOnde ela tem de chegar
Vou devagarinho pela ruaPara não perder o norteAgora és meu e eu sou tuaFizemos a nossa sorteVou devagarinho a olhar p’ró céuCom o peito incandescenteAgora és minha e eu sou teuE é para o todo o sempre
Disseste que era eternoE eu piamente acrediteiE quase ao fim de uma vida inteiraAinda é verdade meu bem
Vou devagarinho pela ruaAo encontro do meu norteHoje ainda és meu e eu sou tuaFoste mesmo a minha sorteVou devagarinho a olhar p’ró céuPeito ainda incandescenteHoje ainda és minha e eu sou teuE vai ser assim p’ra sempre
E vai ser assim p’ra sempreE vai ser assim p’ra sempre
Carina Pereira*por favor não usem sem permissão. 
Qui | 27.11.14

Ah, música

Carina Pereira
Dou por mim a ver a minha criatividade a ser influenciada por tudo o que ouço, desde programas de rádio a músicas. No outro dia no trabalho - e suponho porque ando a ouvir tanta música Portuguesa ultimamente - umas letras vieram-me à cabeça, assim como uma melodia, baixa e indecifrável. Não sei tocar nenhum instrumento musical, por isso compôr torna-se dfícil. Estou a tratar da melodia com o único instrumento que possuo, que é a minha voz. Não é uma voz que cure tristezas, mas dá-me jeito mesmo assim.Amanha, se tudo correr bem e conseguir decorar a melodia toda e fazer a gravação, talvez coloque aqui um link para ouvirem no que é que isto deu. A letra deixo-a aqui para já. Ainda sem titulo, e para ser cantada a duas vozes.*Vou devagarinho pela ruaPara não perder o NorteHoje vais ser meu e eu vou ser tuaVamos fazer a nossa sorteVou devagarinho a olhar p’ró céuCom o peito incandescenteHoje vais ser minha e eu vou ser teuPois o coração não mente
Se o meu pai descobre vai ficar zangadoSe a minha mãe sabe fica o caso arrumadoMas já não sou uma criançaHoje trocamos alianças
Os papéis já estão tratadosFalei com o padre da freguesiaPrometeu guardar segredoDizer uma bonita homilía
Vou devagarinho pela ruaCom o peito incandescenteConto os passos da minha casa até à tuaDe nada desconfia esta genteVou devagarinho a olhar p’ro céuPara não perder o norteSei de cor os passos que me levam até tiAté ao teu abraço forte
O meu irmão emprestou-me o fatoA tua irmã comprou os anéisNão são muitos os que sabemSó os nossos mais fiéis
Convidamos dois amigosVêm para testemunharVão levar a boa novaOnde ela tem de chegar
Vou devagarinho pela ruaPara não perder o norteAgora és meu e eu sou tuaFizemos a nossa sorteVou devagarinho a olhar p’ró céuCom o peito incandescenteAgora és minha e eu sou teuE é para o todo o sempre
Disseste que era eternoE eu piamente acrediteiE quase ao fim de uma vida inteiraAinda é verdade meu bem
Vou devagarinho pela ruaAo encontro do meu norteHoje ainda és meu e eu sou tuaFoste mesmo a minha sorteVou devagarinho a olhar p’ró céuPeito ainda incandescenteHoje ainda és minha e eu sou teuE vai ser assim p’ra sempre
E vai ser assim p’ra sempreE vai ser assim p’ra sempre
Carina Pereira*por favor não usem sem permissão.