Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]
Eu tive de pagar bilhete porque ando há três anos para acabar um conto, mas o José Eduardo Agualusa, que é um escritor a sério, apareceu por lá para falar do seu livro favorito e, a par com Dulce Maria Cardoso (que eu não conhecia mas, depois da conversa, quero muito ler), sobre a infância passada em Angola e aquilo que lhes influencia a escrita.
Levei quatro dos sete livros que ainda tinha por autografar - tive de fazer uma escolha sensata: os livros ou as minhas costas - e voltei toda contente.
Agora, é esperar que isto se torne numa tradição anual (o ano passado tive a felicidade de o ouvir em Den Haag), vou coleccionando livros e levando-os comigo quando a oportunidade se der. Estes já não têm preço.
(Esta é uma publicação muito contida mas podem ler a histeria nas entrelinhas.)
(a colecção no bom caminho, podem seguir tudo no instagram)
Carina Pereira
O mais espantoso neste livro é o entendimento, desde que a história começa a ser narrada, de que alguém vai morrer. Toda a aldeia sabe que um homicídio está prestes a ser levado a cabo, sabem quem serão os autores do crime e a vítima mas, curiosamente, toda a gente falha em evitá-lo pelas mais variadas – e idiotas - razões.
Há muito pouco diálogo; Márquez conta-nos a história na primeira pessoa, atribuída a uma outra personagem e não apenas a um narrador sem nome, e discorre sobre a tragédia de forma bastante corrente, numa junção de factos arrecadados aqui e ali, pequenos retalhos que se alinhavam, dando-nos a perspetiva da história de acordo com cada pessoa que a viveu (exceptuando o morto, claro está). Além disso os acontecimentos do dia fatídico são contados retrospetivamente, começando já depois da morte anunciada ter ocorrido mas, a partir daí, recolhendo testemunhos desde o momento que levou à tragédia.
É uma história pequena, mas muito bem contada, que nos deixa na espectativa, mesmo sabendo que a morte já aconteceu e, por isso, independentemente do que nos é contado e daquilo que passamos a saber, o resultado final é sempre o mesmo. Por outras palavras, o autor desvenda-nos o trunfo, mas não nos desencoraja a ver a jogada até ao fim.
Para escrever algo assim é preciso mestria.
Carina Pereira
Carina Pereira
Carina Pereira