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Contador D'Estórias

Um blog com estórias dentro.

Contador D'Estórias

Um blog com estórias dentro.

Sex | 30.01.15

Títulologia

Carina Pereira
Quanta importância têm os títulos?Para mim são o mais difícil de inventar. Tenho um texto ou poema completo mas falta-me o nome, o nome certo, o nome que condense a matéria de que aquele trabalho é feito. Dar o nome a uma obra nossa é quase como dar um nome a um filho, mas sem a responsabilidade de alguém nos odiar mais tarde por isso. Tem de soar bem aos nossos ouvidos, ou ser um nome original, ou até mostrar o nosso apreço por alguém ou alguma coisa.  Mas os títulos, tal como os nomes e as pessoas, mentem. Os títulos dão-nos a ilusão do conteúdo, mas por vezes a ilusão não passa disso mesmo.“O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá.” Um título simples, conciso, que serve quase como resumo do que vamos ler. Não conta por si só uma história, mas apresenta de quem a história fala. E nós vamos lendo, embalados pela bela escrita, pela magia das coisas impossíveis, pelo pequeno toque no coração que muitas histórias infantis novamente nos dão.É mentira. Desde o título à melodia da escrita, a beleza que nos cativa é a felicidade que antecede o pior. “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” não é uma história feliz. Engana-nos com promessas de amor eternas, com a luta contra todas as desigualdades e no final derrota-nos.Eu continuo a achar que a culpa do meu desengano é do título. Um livro chamado assim, envolto num cachecol de lã tricotado com carinho, não tem direito a ser triste.Jorge Amado faz-nos amar as palavras, entrega-nos uma história cheia de afecto, que escreveu como presente para o primeiro aniversário do seu filho. E depois, no final, entrega-nos a vida como quem nos apresenta a exorbitante conta que sucede um delicioso repasto.Não convém, no entanto, é esquecermo-nos do Rouxinol. A Andorinha Sinhá ainda tem o amor do Gato Malhado e o Gato Malhado tem ainda o amor da Andorinha Sinhá. Mas o Rouxinol, esse tem apenas um casamento de fachada que ganhou pela força das circunstâncias e nenhum coração que lhe pertença.

Carina Pereira

in "Crónicas Ao Acaso"

Sex | 30.01.15

Títulologia

Carina Pereira
Quanta importância têm os títulos?Para mim são o mais difícil de inventar. Tenho um texto ou poema completo mas falta-me o nome, o nome certo, o nome que condense a matéria de que aquele trabalho é feito. Dar o nome a uma obra nossa é quase como dar um nome a um filho, mas sem a responsabilidade de alguém nos odiar mais tarde por isso. Tem de soar bem aos nossos ouvidos, ou ser um nome original, ou até mostrar o nosso apreço por alguém ou alguma coisa.  Mas os títulos, tal como os nomes e as pessoas, mentem. Os títulos dão-nos a ilusão do conteúdo, mas por vezes a ilusão não passa disso mesmo.“O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá.” Um título simples, conciso, que serve quase como resumo do que vamos ler. Não conta por si só uma história, mas apresenta de quem a história fala. E nós vamos lendo, embalados pela bela escrita, pela magia das coisas impossíveis, pelo pequeno toque no coração que muitas histórias infantis novamente nos dão.É mentira. Desde o título à melodia da escrita, a beleza que nos cativa é a felicidade que antecede o pior. “O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá” não é uma história feliz. Engana-nos com promessas de amor eternas, com a luta contra todas as desigualdades e no final derrota-nos.Eu continuo a achar que a culpa do meu desengano é do título. Um livro chamado assim, envolto num cachecol de lã tricotado com carinho, não tem direito a ser triste.Jorge Amado faz-nos amar as palavras, entrega-nos uma história cheia de afecto, que escreveu como presente para o primeiro aniversário do seu filho. E depois, no final, entrega-nos a vida como quem nos apresenta a exorbitante conta que sucede um delicioso repasto.Não convém, no entanto, é esquecermo-nos do Rouxinol. A Andorinha Sinhá ainda tem o amor do Gato Malhado e o Gato Malhado tem ainda o amor da Andorinha Sinhá. Mas o Rouxinol, esse tem apenas um casamento de fachada que ganhou pela força das circunstâncias e nenhum coração que lhe pertença.

Carina Pereira

in "Crónicas Ao Acaso"